Brasília, 14 de novembro de 2025
Belém virou “vitrine do mundo” na COP 30. Lula discursou como líder climático, apresentou o Brasil como guardião da Amazônia e cobrou dos países ricos dinheiro e compromisso para uma transição energética justa. Até aí, nada de novo, o roteiro é bem conhecido. O problema é que, nos bastidores, a prática do próprio governo expõe uma contradição difícil de esconder, especialmente quando se olha para o petróleo, para a vida real na Amazônia e para o tratamento dado ao agronegócio brasileiro.
Como pode o país anfitrião pedir o fim dos combustíveis fósseis quando está prestes a perfurar bem na porta da maior floresta tropical do planeta? Lula defende que isso irá financiar a transição energética do Brasil. Assim como ele prometeu, quase 20 anos atrás, que o pré-sal financiaria o desenvolvimento do país com foco em infraestrutura, educação e o fortalecimento da indústria nacional. Como bem sabemos, isso não aconteceu.
Nesse cenário, o agronegócio brasileiro vira, com frequência, o vilão conveniente, mas a história real é bem diferente. O Brasil ainda preserva a maior parte do seu território com cobertura de vegetação nativa e produz muito em uma área relativamente pequena, usando cada vez mais tecnologia para reduzir impactos. Técnicas como plantio direto, rotação de culturas, recuperação de pastagens e integração de lavoura com pecuária e floresta são práticas comumente difundidas em nossa produção agrícola.
Além disso, a expansão de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, ajuda a substituir parte dos combustíveis fósseis e a diminuir emissões. Na prática, isso significa que o agro brasileiro não só pode ser um dos mais sustentáveis do mundo, como também tem grande capacidade de recuperar áreas degradadas e contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Em outras palavras: quando o governo reduz o debate ambiental a apontar o dedo para o agro e poupar o petróleo, a política climática deixa de ser séria e escorrega para a farsa. Demoniza-se justamente o setor que já dispõe de instrumentos concretos para reduzir emissões e gerar renda, enquanto se normaliza a expansão de uma matriz fóssil que empurra o planeta para a “catástrofe” que eles dizem querer evitar.
A verdadeira “coerência verde” do Brasil passa por três movimentos: parar de usar a Amazônia como cenário de marketing internacional; colocar as populações da região no centro da agenda; e tratar o agronegócio não como inimigo ideológico, mas como parceiro.
Não se trata de ser contra a exploração de petróleo nem de negar a importância estratégica da energia para o desenvolvimento do país. A crítica é outra: é o governo posar de campeão climático e mascarar as próprias contradições culpando um setor que já vem avançando em práticas sustentáveis.
Se o Brasil quiser ser levado a sério na agenda ambiental, precisará alinhar discurso e prática, com menos palanque em conferência internacional e mais seriedade diante de quem produz, trabalha e vive todos os dias na floresta e no campo.
Luis Carlos Heinze