No dia 10 de abril, entrei de licença médica, a contragosto, depois de mais de 40 anos de trabalho ininterrupto. Minha equipe médica e meus familiares foram enfáticos sobre a necessidade de afastamento. Os primeiros dias foram de cuidados, mas o dia 27 de abril nos trouxe A CHUVA e com ela uma angústia muito maior que a doença que atingia meu corpo.
Era o grito de milhares de amigos que conheci nas estradas do nosso Rio Grande que não saia da minha cabeça. Da TV do consultório médico ao meu telefone, os pedidos de ajuda brotavam como semente em solo fértil.
Tinha gente no telhado, casas destruídas, terras arrasadas e mortes durante quase um mês. O desespero das famílias e a sensação de impotência, diante da magnitude da tragédia, me fez compreender, já naquele instante, que era preciso pensar no futuro. O trabalho, que sempre foi meu aliado, passou a ser meu refúgio.
Mergulhei em duas frentes. A primeira foi colaborando com o meu suplente Ireneu Orth e a nossa equipe de gabinete no trabalho que incluiu preparação de ofícios, emendas, projetos de lei e muita cobrança sobre os mais variados temas. Do campo à cidade, foram protocolados atos legislativos; muitos deles deram origem a medidas provisórias, decretos e programas, tudo com foco no curto e médio prazo.
A segunda frente de trabalho, sem dúvida, foi a prevenção. Há quem diga que desde maio estou abraçado a cinco projetos e pareço um disco arranhado. Acusação que não posso negar.
Tudo começou em uma conversa com o ex-presidente da Metroplan, Oscar Escher. Ele trouxe a informação sobre os projetos que foram iniciados em 2012, mas estavam paralisados há quase sete anos.
Com a informação em mãos, fui atrás das empresas que elaboraram o projeto para entender melhor. E, já no dia 15 de maio, conversei com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, sobre a retomada e, em seguida, com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Ficou claro que, para desenterrar a iniciativa que exigia investimento de R$ 6,5 bilhões, era preciso pressionar. Desde então, foram dezenas de reuniões envolvendo especialistas, prefeitos, vereadores, promotores de justiça, representantes do governo do estado, ex-governadores, empresários e jornalistas.
Percorri o estado falando sobre a importância de reativar os projetos. Entre uma sessão médica e outra, meu assunto era esse. Levei a iniciativa à comissão criada pelo Senado para acompanhar a tragédia – CTERS -, na condição de licenciado, e pedi apoio.
Durante as visitas da CTERS ao estado, marquei presença e defendi a retomada com veemência de quem não suportaria ver uma nova tragédia afetar o Rio Grande do Sul. Fui cirúrgico, porque estava em jogo o futuro da nossa terra: expliquei o sistema de diques, as centrais de bombeamento e cobrei a atualização das cotas de inundação. Depois de meses de trabalho, respirei aliviado. O governo federal foi a público e anunciou a retomada dos cinco projetos. E mais: logo depois, publicou no Diário Oficial da União o acordo de cooperação com o executivo estadual para garantir a contratação das obras.
O trabalho iniciado em maio não acabou. Ainda temos anos de fiscalização até a entrega à população, mas tudo isso representa, para mim, a esperança de dias melhores. É a luz no fim do túnel, diante de um ano difícil e da sensação dolorosa de que os gaúchos foram abandonados pela federação.
Por fim, fica a lição: a catástrofe que vivemos poderia ter sido evitada e, quanto mais cedo isso for compreendido, menos lágrimas haverá no futuro, seja no Rio Grande do Sul ou em qualquer outra parte do Brasil. É preciso reduzir riscos, prevenir e não deixar nada para trás. E o Senado, meus amigos, é parte fundamental desse processo. Vamos trabalhar?